As Missas Catolicas sejam “ad Orientem”

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Sem sombra de dúvidas, este é o pedido mais corajoso e mais forte desde a influência litúrgica de Bento XVI, precisamente a partir de novembro de 2007: em seu pontificado, o Papa emérito alemão, pouco a pouco, implementou nas liturgias papais tudo quanto escreveu desde que era cardeal, explicando-se como a verdadeira reforma litúrgica desejada pelo Concílio Vaticano II, atualizada, mas sem ruptura com a tradição de tantos séculos.

Londres, noite de 05 de julho de 2016, sessão inaugural da conferência Sacra Liturgia, um evento que é sediado em algumas cidades do mundo. O Cardeal Robert Sarah, desde 2014 Prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, nascido na africana Guinea, é um homem de teologia séria, destemido, decidido, tal como de seu continente (entre eles, o Cardeal Francis Arinze, que é seu predecessor na Congregação para o Culto Divino). Sua Eminência surpreendeu o mundo quando pediu que, mesmo na forma ordinária do rito romano, do Missal de Paulo VI, os Celebrantes voltem-se para o fundo da igreja, tal como os fiéis na assembleia. Esta orientação física é comum na forma extraordinária, mais conhecida como rito tridentina. Mas, de fato, em algumas rubricas o Missal ordinário de Paulo VI parece indicar, desde que foi lançado, que o Celebrante de costas e, em alguns momentos, determina que este “voltando para o povo”, faz um gesto. O Cardeal Sarah, sabendo disso, portanto, disse que celebrar “ad Orientem” (ou “versus Deum”) não é contra a reforma litúrgica do Vaticano II. 

Em inglês, o purpurado disse: “I want to make an appeal to all priests”, isto é, “Eu quero fazer um apelo a todos os sacerdotes”. E também: “And so, dear Fathers, I ask you to implement this practice wherever possible”, ou seja, “E assim, querido Padres, peço-lhes para implementarem esta prática sempre for possível”. E continuou falando que a melhor implementação do Vaticano II na Liturgia, entre outros aspectos, é que todos se voltem para o Oriente, que na maioria das igrejas é o fundo destas. Para tanto, reconheceu que é necessária uma catequese sobre o significado de tal gesto, uma vez que muitos nos últimos 50 anos não o conhecem e não o entendem bem, mas que os pastores sabem que isto é bom para a Igreja e para o nosso povo.

Uma data para o começo

Para grandes mudanças sempre é dado um prazo largo para adaptações. Por exemplo, quando é aprovado e publicado uma nova tradução do Missal num país, é comum estabelecer meses até a obrigatoriedade de seu uso. Entre os anglófonos, há poucos anos, foi dito que o Advento de 2011 seria o marco de início do uso do novo Missal. Semelhante a isso, à distância de mais de 6 meses, o Cardeal Sarah sugeriu que as Missas na forma ordinária “ad Orientem” comecem a ser celebradas a partir de 27 de novembro de 2016, Primeiro Domingo do Advento.

Dom Dominique Rey, Bispo de Fréjus-Toulon (França), presente na conferência daquela noite, após enviar uma carta ao seu clero, respondeu imediatamente que a sua diocese atenderá ao pedido do Cardeal.

Por que o Oriente

A arquitetura eclesiástica preocupou-se em construir as igrejas com o altar principal voltado para o Oriente, o lado nascente do sol, pois o Cântico Benedictus de Zacarias reza que Deus é “o sol nascente que nos veio visitar”. Na verdade, nos primeiros séculos a original liturgia romana já preocupava-se com essa orientação, mas de forma um pouco diversa: não o fundo mas a porta principal das igrejas era construída voltada para o Oriente. Por isso que igrejas verdadeiramente romanas, como a Basílica de São Pedro no Vaticano, hoje ou antigamente, sempre tiveram o Celebrante no altar principal voltado para o povo, mas, na verdade, voltado para o Oriente. Assim, a liturgia romana primitiva sempre teve o altar solto da parede.

Com o desenvolvimento arquitetônico, principalmente por terem corpos ou outras grandes relíquias de santos e possuírem mais decorações, os altares começaram a ser construídos no fundo das igrejas, presos à parede. A liturgia tridentina solidificou esse costume, embora sempre previsse a celebração também em altar no meio do presbitério, tal nas igrejas romanas, como foi dito há pouco.

“Ao Orientem” ou “versus Deum” (“voltado para Deus”, do latim) não é somente um sentido litúrgico, como, obviamente, o altar é Cristo; ou um sentido antropológico, como alguns argumentam que a assembleia é Cristo. Sim, todos nós somos o Corpo de Cristo, que é a Igreja, mas tudo não é Cristo, porque isso é panteísmo. O sentido de voltarem-se todos para uma só direção é a tradição da Igreja e tem sentido teológico. Não é que todos fiquem em torno do altar, a menos que seja uma igreja genuinamente romana, na qual o Oriente é para o lado da porta principal.

O Cardeal Sarah também disse que o Papa Francisco em abril passado lhe pediu um estudo sobre a reforma litúrgica do Vaticano II e uma pesquisa do enriquecimento mútuo entre o rito antigo e a forma nova. Portanto, esse pedido do mesmo Cardeal já prepara a Igreja no mundo todo para o que, possivelmente, será feito futuramente na liturgia romana. Não é complicado; já vimos os Papas Bento XVI e Francisco fazendo assim no Vaticano:

Os ritos iniciais são comuns. O Celebrante beija o altar e, se houver incenso, incensa-o. Se o altar for separado da parede, caminha em torno dele; se não, incensa segundo o rito antigo, isto é, distribuindo o movimento do turíbulo entre a parte superior, as laterais e a frente do altar. Depois disso, volta-se para o povo e a Missa continua normalmente até a apresentação das ofertas.

Os vasos sagrados são colocados no altar sempre ao lado direito e o Missal Romano no lado esquerdo. Se houver incensação, ela é feita como no início da Missa, mas adicionando o próprio da incensação das ofertas. Voltado para o povo, o Celebrante diz: “Orai, irmãos e irmãs…” e continua a Missa. No diálogo do Prefácio não se volta para o povo, nem mesmo quando disser “O Senhor esteja convosco”.

Continua a Missa nessa orientação. O Celebrante volta-se para o povo quando disser: “A paz do Senhor esteja sempre convosco” e também quando apresentar a hóstia sobre a patena, dizendo: “Eis o Cordeiro de Deus”. Volta-se para o altar e comunga. Depois da purificação dos vasos, os ritos finais são feitos voltados para o povo.

Com informações da página oficial do Sacra Liturgia – Londres 2016. / Em Português

Post Author: LusOrtodoxia

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