Nascimento de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo (25 de Dezembro / 7 Janeiro)

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Cristo nasce, glorificai-O!
Cristo desce do céu, ide ao seu encontro!
Cristo está sobre a terra, sede orgulhosos d’Ele!

Canta ao Senhor a terra inteira,
e vós, ó povos, com hinos celebrai-o na alegria,
porque cobriu-se de glória.

Essa estrofe, a primeira do Cânon de Natal, é de São Cosme de Maiúma († 760). Nas igrejas bizantinas que celebram por inteiro todos os ofícios litúrgicos, já, algumas semanas antes do Natal, fazem ecoar essa estrofe, cantada como katavasía, isto é, estrofe que conclui o Cânon. Mas é cantada com particular exultação no dia da festa, quando se celebra o “Nascimento segundo a carne do Senhor, Deus e Salvador nosso Jesus Cristo”: solene e longa denominação que indica a festa do Natal. Depois da Páscoa, também no Oriente é a festa mais querida a todos os fiéis, caracterizada por uma alegria espiritual e por uma hinografia excepcionalmente rica e bela. São diversos os “melodes” que contribuíram na criação dessas composições, chegadas até nós desde séculos longínquos.

É de Romanós, o Melode (VI século), o kondákion que segue:

Hoje a Virgem dá à luz o supersubstancial
e a terra oferece uma gruta ao inacessível.
Os anjos com os pastores cantam a sua glória,
os Magos avançam seguindo a estrela.
Para nós nasceu, tenra criatura,
o Deus existente antes dos séculos.

Este breve hino faz-nos entender que a liturgia bizantina celebra em 25 de dezembro o evento histórico do nascimento de Jesus da Virgem Maria, no seu complexo, incluindo também a adoração dos Reis Magos. São Germano († 733) é mais explícito ainda afirmando num outro hino das Vésperas:

Ao nascer de Jesus em Belém de Judá,
os Magos, chegados do Oriente,
adoraram o Deus encarnado
e, abertos diligentemente seus tesouros,
lhe ofereceram dons preciosos:
ouro puro como ao Rei dos séculos,
incenso como ao Deus do universo,
e mirra a ele, o Imortal, como a um morto triduano.
Povos todos, vinde,
adoremos aquele que nasceu
para salvar as nossas almas.

Um autor bizantino faz notar, justamente, como na tradição oriental não se encontra «a mesma ternura da cultura ocidental em relação às figurações típicas da prática devocional, como o Menino Jesus, o presépio realizado por São Francisco de Assis ou em relação ao tema da Sagrada Família. O Oriente gosta mais de considerar o Mistério de Deus, o qual, descendo dos céus, se inclina para a terra, e assume uma natureza a ele estranha para socorrer o homem decaído.»

Uma confirmação de quanto foi dito encontramos nos textos litúrgicos do dia de Natal; basta um exemplo.

Vinde, alegremo-nos no Senhor,
considerando o mistério presente:
o muro de separação foi abatido,
a espada flamejante retrocede,
os Querubins se afastam da árvore da vida
e eu participo das delícias paradisíacas
das quais a desobediência me tinha afastado.

A imagem idêntica ao Pai, a marca da sua eternidade
toma forma de servo sem sofrer mutação,
nascendo de uma mãe que desconhece as núpcias.
Deus verdadeiro, o que era permanece,
o que não era assume-o,
feito homem por amor dos homens.
Aclamemo-lo: Deus nascido da Virgem,
tem piedade de nós!

O ícone do Natal será solenemente exposto no meio da igreja, sobre o proskinetárion, durante a celebração vesperal do dia 24 e ali permanece até o dia 31 de dezembro. A representação tradicional remonta à mais remota antiguidade e a encontramos, inclusive, nas chamadas ampolas de Monza, trazidas da Terra Santa entre o V e VI século. No meio da composição iconográfica, numa gruta escura, símbolo do mal, está o recém-nascido Jesus Cristo, verdadeira luz para o mundo inteiro; as faixas que o envolvem relembram as faixas mortuárias das quais sairá o Ressuscitado, sendo idêntica também a palavra que as descreve. Um único raio de luz (único como é Deus), saindo da estrela, torna-se tríplice (evidente alusão a Trindade) e desce sobre a Mãe e o seu Filho. No alto à esquerda, dois anjos estão em adoração; mais embaixo os três Magos, montados em cavalos, dirigem-se rumo ao Salvador. Mais embaixo ainda, está José pensativo, talvez num momento de tentação. Com efeito, os apócrifos narram que o demônio, disfarçado de pastor, insinuava-lhe dúvidas sobre a virgindade de Maria. Por fim, a cena do banho indica que o pequeno Jesus Cristo possui verdadeiramente a natureza humana e contemporaneamente alude ao batismo, pois a bacia tem forma de pia batismal.

No lado oposto, outro anjo dá o anúncio aos pastores e, no meio, junto ao recém-nascido, está a Mãe de Deus deitada sobre panos. São pouquíssimos os ícones em que a Virgem olha para o seu Filho; habitualmente ela está voltada para nós, diríamos “meditando no seu coração” o conjunto do mistério da salvação em que ela, flor da humanidade, representou a nós todos dando seu consentimento à encarnação e tornando-se a mãe de todos nós, permanecendo virgem. As três estrelas que ornam o seu manto indicam a virgindade de Maria. Observando o ícone da festa, saem espontaneamente dos nossos lábios as palavras das Vésperas tão profundamente poéticas que dizem:

O que te ofereceremos, ó Cristo,
por te haveres mostrado sobre a terra como homem?
Cada uma das criaturas por ti criada
oferece-te a sua gratidão:
os anjos, o cântico; os céus, a estrela;
os Magos, os dons; os pastores, a sua admiração;
a terra, uma gruta; o deserto, um presépio;
mas nós, uma Mãe Virgem!
ó Deus, existente antes dos séculos,
tem piedade de nós!

Para concluir, transcrevemos a parte final de um hino composto por Cássia, monja que viveu no século IX. O hino ainda faz parte do ofício de Natal celebrado pelos ortodoxos e pelos católicos gregos:

Os povos foram recenseados por ordem de César;
nós, os crentes, fomos marcados
pelo nome da tua divindade,
ó nosso Deus encarnado.
Tua misericórdia é grande, Senhor, glória a ti!

***

Troparion ou Apolytikion – 4º TOM

Teu Nascimento, ó Cristo Deus, / fez brilhar no mundo a luz do conhecimento. / Nela os adoradores dos astros / aprenderam de um astro / a adorar-Te, Sol de Justiça, / e a reconhecer-Te como o Oriente do alto. / Senhor, glória a Ti!

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FONTE:
«O ANO LITÚRGICO BIZANTINO»
Madre Maria Donadeo

Post Author: LusOrtodoxia

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